domingo, 12 de abril de 2009

E com vocês, PADRE LELES

O TÚMULO VAZIO E O CORAÇÃO CHEIO
Autor: PADRE JOSÉ LÉLES DA SILVA (PADRE LELES)

Aquela sexta-feira se passara como um torturante pesadelo. O sábado, que deveria ser memória festiva da páscoa judaica, se dera como uma sucessão agonizante de intermináveis horas.

No começo do dia, o primeiro da semana, tendo às costas os últimos suspiros da noite, as mulheres avançam pela madrugada adentro, rumo aos primeiros clarões do dia.

Os femininos pés machucam gotas de orvalho que, como pérolas, refletem minúsculas reproduções do céu. Nas mãos levam perfumes para ungir o corpo arrancado, às pressas, dos braços da cruz. No peito, os corações batem num compasso sincronizado aos apressados passos.

Os olhos não sabem o que vão ver...

As humanas criaturas têm gravada n´alma a lembrança fúnebre do mestre que, como a serpente no deserto, fora içado na haste do lenho. Enquanto às margens do caminho os arbustos são banhados com as primeiras carícias da luz, no profundo do ser, ainda reinam os sinistros mistérios de incertezas e medos, os filhos da noite. Palavra não se diz. O silêncio preenche todos os espaços. Só a intuição feminina apalpa o inefável. Toca o invisível.

As santas mulheres buscam um corpo que foi estorcido no calvário como um ramo de videira engolido pela queimada. Desejam ver, mesmo que morto, aquele homem que as amou e perdoou e que fora, pelos homens, feito um verme, uma criatura que causa asco e que os olhos não querem ver.

No jardim, entre o tremor e o temor, o susto e a admiração, deparam-se com um sepulcro vazio. Um feixe de trevas. Um morto já não é. Um Eterno vivente fala de paz. O túmulo se abriu e os céus também.

O olhar sobre a tumba vazia povoou o coração de messiânica alegria, pois sobre a morte, na tremenda batalha, o Amor vencia.

Que nesta Páscoa seu coração enxergue o que os olhos ainda não podem ver.

Feliz Páscoa da Ressurreição!